Localização e tamanho do lago
Primeiro temos de pensar no local ideal para o nosso futuro lago. Convém que seja um local aberto e que receba uma boa quantidade de luz (sol) durante algumas horas por dia.
Tomar em atenção para não ficar demasiado perto de árvores, uma vez que estas podem vir a danificá-lo com as suas raízes. Também as folhas dessas árvores acabam por cair na água, sujando-a e contribuindo para a alteração dos seus parâmetros com o seu posterior apodrecimento.
Como processo facilitador convém deixar o lago relativamente próximo de uma tomada eléctrica, para a instalação de equipamento. Os engenhocas sempre podem construir um lago cujo fornecimento energético seja feito através de painéis solares.
A profundidade do lago é outro factor de elevada importância. Apesar de não termos em Portugal invernos demasiado rigorosos (na generalidade das zonas do país), temos verões muito intensos. Assim, devemos pensar a construção de um lago com uma zona de profundidade mínima de um metro.
Esta profundidade permite que os peixes tenham uma zona mais fresca e oxigenada nos períodos de calor intenso onde podem refugiar-se. Por outro lado, nos meses gelados de Inverno, a água, a um metro de profundidade, tem uma temperatura próxima dos +4ºC, não deixando que o lago congele por completo.
Para que a regulação biológica natural do lago seja possível, este deve ter no mínimo uma área de cerca 10 metros quadrados (uma área equivalente à de um quadrado com 3,20 metros) sendo que 2 metros quadrados desta superfície devem ter 1 metro de profundidade.
Material de fabrico
Existem dois tipos de materiais aconselhados para a construção do lago de jardim. Os tipos pré-fabricados e os de tela.
Os lagos pré fabricados são muito mais simples de instalar e bem mais robustos. Duram muito mais tempo sem sofrer danos uma vez que o material é extremamente resistente. Além disso, como já vêem formados, acabamos apenas, por ter de cavar um buraco mais ou menos do tamanho e forma daquilo que compramos. Vendem-se em superfícies comerciais com área de jardinagem e já existem em variadíssimas gamas.
Contudo, os lagos pré-fabricados têm várias limitações. Mesmo os modelos grandes de uma só peça têm áreas inferiores a 10 metros quadrados e em quase todos a profundidade máxima é de cerca de 80 centímetros, o que, conforme foi dito anteriormente, não é aconselhável.
Se quisermos adquirir algo de maior, acabamos por ter de despender muito dinheiro.
Além do mais, costumam ser bastante inclinados, o que não é de todo favorável a manutenção e aos eventuais deslizes de alguma pessoa ou animal que eventualmente caia lá dentro. Como a inclinação é grande, acaba por dificultar a saída em caso de acidente.
Os lagos de construção em tela impermeável em PVC durável, são os que permitem uma construção mais adaptada à medida e ao gosto de cada um. São bastante fáceis de manusear e acabamos por ter uma maior liberdade criativa na construção. Para além disso o material é bastante mais barato.
No entanto, convém comprar uma tela de 1 milímetro de espessura ou mais, a fim de evitar que esta se venha a rasgar com facilidade.
Os oleados contêm metais pesados tóxicos (cádmio) pelo que não devem ser utilizados para a construção do lago em nenhuma circunstância! Ao comprar a tela devemos ter em atenção à sua capacidade de resistência à radiação UV, para não rachar facilmente. É também importante que a tela resista bem a temperaturas baixas e que seja inócua para peixes e as plantas.
Planificação do lago
O próximo passo é a planificação. Para tal precisamos apenas de imaginação, papel e lápis. É fundamental fazer um pequeno esboço daquilo que pretendemos.
Sugiro que o desenho do projecto seja realizado em corte transversal. Devemos pensar na colocação de zonas para plantio de plantas (com substrato, cascalho e/ou areia fina) a diferentes níveis de profundidade, pensando também que existem diversos tipos de plantas para diversas profundidades. O lago deverá afundar de forma suave. Não esquecer a já citada zona mais profunda (1 metro).
Também devemos ter em consideração os locais de instalação de bombas e filtros, pensando em locais de maior facilidade de acesso aos equipamentos, para futuras manutenções ou eventuais problemas técnicos.
As margens devem ser pensadas com o objectivo de uma boa fixação da tela (com pedras por exemplo), de forma a evitar que a tela se desprenda e não esquecer que essa fixação ao solo deve ser realizada em vários pontos do lago e a várias profundidades. Evitamos assim que a tela nos apareça solta à superfície no final de toda a montagem.
Construção e enchimento
Escavamos o buraco conforme planeado, levando em consideração os vários patamares para colocação de plantas. De seguida, e para que as margens do lago tenham o mesmo nível, enchemos uma pequena mangueira transparente com água e, fazendo uso, do principio dos vasos comunicantes verificamos se a superfície do lago se encontra nivelada.
Também podemos usar uma tábua comprida, assente em ambas as extremidades da cova, e um nível de bolha de ar para atingir o mesmo fim.
De seguida é necessário comprar a tela com área suficiente para forrar completamente todo o interior do lago.
No fim de acabarmos de cavar o buraco, vamos limpar toda a sua superfície para retirar as pedras e o cascalho do seu interior. Qualquer pedra mais afiada pode resultar no rompimento da tela.
Depois de comprar a tela, vamos assentando a partir de uma extremidade, prendendo-a com pedras, por exemplo. Convém colocar pedras algo pesadas, sem arestas demasiado pontiagudas, em vários pontos do lago para fique bem presa. Nunca furar a tela com estacas ou algo similar (como é óbvio). A tela deve ser bastante maior do que toda a superfície do lago, uma vez que ela vai revestir todo o seu interior e ainda sobrar tela para a podermos fixar à superfície.
Depois da tela colocada, devemos deixar um tubo, ou um canal para escoamento de água excedente por forma a que a água da chuva p.ex possa ser drenada para um local apropriado (fossas, valas ou outras canalizações).
Passamos a fase da colocação do areão.
Na parte mais funda do lago devemos colocar uma pequena camada de areão com 1 ou 2 centímetros apenas. Posteriormente, o tempo encarregar-se-á de depositar outros detritos.
Nos patamares mais superiores, devemos colocar 5 a 8 centímetros de areão uma vez que será nestes locais que vamos colocar as plantas. Nunca cometa o erro de usar terra de jardim para este efeito.
De seguida é necessário plantar as plantas, sabendo que estas deverão estar sempre húmidas no processo. Isto quer dizer que não devemos plantar as plantas e esperar dois ou três dias para encher o lago com água. Caso não seja possível, então não devemos esquecer-nos de manter as plantas húmidas.
Ainda em relação às plantas, podemos optar por colocar algumas dentro de recipientes (cestos com areão), em vez de ficarem todas plantadas directamente entre o areão e a tela. Assim temos sempre a possibilidade de mudar esses cestos de local com relativa facilidade, alterando a estética do nosso lago. Este truque, também nos permite realizar as podas e transplantes com muito maior facilidade.
O enchimento do lago com água deverá ser realizado por fases. Enchemos um terço do volume e deixamos repousar dois dias, depois passamos para o segundo terço e mais dois dias de repouso e finalmente acabamos de encher o último terço.
Com este processo damos tempo para que os materiais se adaptem a pressão exercida pelo líquido.
Uma nota de extrema importância, é saber qual vai ser a capacidade do nosso lago. Sendo assim devemos apontar os litros de água gastos no seu enchimento. Isto prende-se com o facto de, para qualquer tratamento futuro, em peixes, plantas, etc., tenhamos a noção exacta do volume de água do lago. Deste modo, podermos aplicar os químicos, correctamente, fazendo as contas de forma exacta, evitando excesso de químicos ou falta deles.
A água deve ser colocada com algum cuidado para não danificar os arranjos que já se encontram feitos. Sugiro o uso de uma mangueira a baixa pressão e deixar encher lentamente. Para sabermos o volume gasto, basta verificarmos, por exemplo o contador da água. Ou então encher com regadores ou baldes dos quais sabemos o seu volume.
Durante as três fases do enchimento devemos ir acondicionando a água com os produtos que existem no mercado. Assim conseguimos controlar de inicio, fosfato, nitratos, cloro etc.
Filtro, lâmpadas e plantas
Um filtro adequado para lagos de jardim, de acordo com o volume desse lago, tem um papel crucial na manutenção de todo o sistema. Vai limpando as impurezas, renovando a água, criando colónias de bactérias “boas” nos materiais filtrantes, permite uma boa circulação da água impedindo a estagnação, etc.
Estes filtros trazem no interior da caixa todos os pormenores de instalação e, como é obvio, devem ser colocados durante a montagem e ligados depois do lago estar cheio. Podemos fazê-lo à posteriori, (como fui obrigado a fazer no lago que citei da ilha da madeira). Mas nesse caso mais vale vestir o calção ou fatinho de banho. O que até pode ser bem divertido, mas não é o ideal.
Devemos também instalar um filtro de lâmpada UV-C. Existem filtros completos em que um só sistema de filtro já tem lâmpada UV-C incorporada, mas pessoalmente prefiro o uso de dois em separado. Assim evitamos que se estraguem as duas componentes ao mesmo tempo.
No fundo é como ter a playstation 3 ( com tudo incluído) ou DVD e blue-ray em separado. Se a PSP se estraga ficamos sem alternativas e se tivermos componentes separadas sempre usamos a outras.
É importante que a água seja filtrada antes de chegar à lâmpada UV-C. Isto evita que os agentes patogénicos passem pela lâmpada protegidos por partículas em suspensão. Ou seja, o filtro deve ser colocado antes da lâmpada UV-C no circuito de água.
Não nos devemos esquecer que estes equipamentos precisam de corrente. Daí já ter alertado para tal, na fase de planeamento. Para além do mais, de tempos a tempos, temos de mudar os materiais filtrantes ou mesmo limpar o filtro. Convém ter em atenção o local onde vamos colocar estes equipamentos dentro do lago. Isto para que seja um local em que (mesmo de fatinho de banho) lá possamos chegar facilmente.
Depois de toda a montagem realizada (plantas inclusive), devemos dar ao lago um período de poisio.
Este período de descanso servirá para as plantas criarem algumas raízes e também para que o ciclo do azoto (ciclo da nitrificação) seja completamente realizado. Basicamente, este ciclo, é a conversão da amónia em compostos de azoto que são praticamente inofensivos. Mas não se preocupem! Este processo não é realizado por nós e sim por bactérias que realizam esta conversão.
Para quem tiver mais recursos, existem várias hipóteses de iluminação interna e externa do lago. Se colocarmos no interior do lago e na área circundante, algumas lâmpadas bem posicionadas, conseguimos criar uma atmosfera nocturna espectacular. Para além disso também podemos adicionar cascatas (com pequenas bombas de água) e repuxos.
Enfim! Adereços não faltam. É tudo uma questão de imaginação, gosto e, claro está, dinheiro.
Finalmente… os peixes!
Ora nem mais! Chega agora a altura de colocar no lago os seus habitantes mais desejados.
São obviamente os peixes que trazem a dinâmica a qualquer lago de jardim. Existem várias opções: as esplendorosas carpas Koi, os kinguios, os estorjões, etc. No entanto e isto é uma opinião pessoal, não é de bom-tom fazer uma comunidade de todas as espécies. Sinceramente, prefiro um lago de apenas uma espécie de peixes.
No acto da compra, verifique se os peixes aparentam estar em boas condições. Peçam para que os alimentem à vossa frente e verifiquem se demonstram vitalidade e se não aparentam ter feridas visíveis no corpo.
Um lago de carpas Koi é fantástico a todos os níveis. Há contudo a salientar que, se a opção for esta, são peixes que podem atingir um metro de comprimento. Assim sendo, há que ter em atenção á profundidade, á área do lago e á quantidade de peixes que vamos introduzir.
Devemos realizar uma verificação dos nitritos antes de colocar qualquer peixe no interior do lago. Para tal, basta comprar um pequeno kit de teste numa loja. Assim que os níveis estiverem abaixo de 0,1 mg/l podemos introduzir os primeiros peixes.
Jamais introduzir os peixes no lago todos ao mesmo tempo. Devemos começar por colocar dois peixes inicialmente e ir aumentando o seu número ao longo das semanas seguintes. Assim daremos tempo de adaptação ao nosso micro sistema.
Agora o trabalho está feito!
Resta-nos redobrar a atenção nos primeiros dias de adaptação dos peixes. Verificar se estes se alimentam bem e se estão activos. Realizar leituras do ph da água (com kit apropriado) e dos nitritos. Se tudo foi realizado correctamente e com a calma necessária (quase sempre é a pressa em chegar ao fim que traz maus resultados), não deverão existir problemas.
Finalmente podemos apreciar a obra e porque não, convidar uns amigos para desfrutarem do novo espaço lá em casa.
Ou então, sentem-se apenas no local a relaxar e apreciem. Acreditem que vale mesmo a pena.
Lista de materiais, equipamentos e plantas
De seguida deixo-vos em sumário uma lista de verificação se estiverem interessados.
1. Materiais
- Pá
- Enchada
- Picareta (se a terra for muito dura)
- Fio ou fita para medições
- Mangueira transparente ou tábua direita e nível
- Baldes
- Lago pré-fabricado ou tela
- Revestimentos de protecção da tela (se for a opção)
- Esteira de protecção de declives (se necessário)
- Pedras arredondadas médias e grandes
- Areia fina para acamar o fundo entre a tela e o solo
- Areão (para substrato das plantas)
2. Equipamentos
- Filtros (verifique o volume do lago e pergunte na loja qual o filtro mais indicado para o seu caso)
- Bomba de lago
- Lâmpadas várias (se for a opção)
- Repuxos (se pretender)
- Kits de teste de ph e de nitritos (no mínimo estes)
3. Plantas
- Plantas de folhas flutuantes
- Plantas submersas
- Plantas flutuantes
- Plantas de margens
- Plantas de zonas pantanosas
- Adubos (fortificantes para plantas aquáticas)
- Rede (para retirar peixes e folhas)
Quanto aos peixes, dependerão do gosto e possibilidades de cada um.
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